Vejo em mim o ardor da vida escorrer por entre os poros:
O ardor, o ar e a dor... Já não mais respiro.
Em minhas entranhas sinto um fogo adormecido,
Que se recusa a se apagar, pois tanto teve aquecido!...
Antes tivesse morrido, livre desse ar mortificado,
Antes tivesse morrido sorrindo! Ah... Seria mais polido
Do que a vida amortecida pelas sufocantes palavras jamais
ditas,
Pelo sufocante sentimento em mim repreendido...
Pelo que sei da vida, não sei, pois já não vivo.
Eu tento sentir, mas já não mais sinto, e vago sem rumo,
Porque o que havia aqui dentro tornou-se fumaça.
Fumaça que eternamente é expurgada – e eu eternamente poluo
o mundo.
Por que haveria eu de continuar sendo para sempre
destruição?
Deveria mesmo não ser. Não sendo, nada em mim iria doer,
E nada ao meu redor poderia corromper. Dar-se-ia o silêncio
da solidão.
Recompensador, um consolo para quem um dia fez-se crer.
Acreditei que poderia ser sol, e poderia alimentar a vida,
Irradiando toda minha alegria. Mas já não há alegria, e não
há sol.
Tudo é frio e cinza. Tudo bem (tudo bem ser cinza). Tudo
bem.
Tudo bem. Tudo bem. A culpa não é minha, e só eu estou só.
Todos sorriem, todos cantam, todos dançam, todos vivem,
todos são sol,
E eu sou a neblina que os ofusca: eu estagnada onde não
pertenço,
Eu não me pertenço... Sou a incessante busca dos
adormecidos.
E não vou acordar deste pesadelo – porque eu sou o pesadelo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário