quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Esma


Nunca precisei de muito para viver. Pois que agora, vejo-me reduzida ainda a menos... Um menos interminável, um menos de tudo. E ainda assim, estou do mesmo modo viva. E esma. Como é eloquente a tradução de mim mesma a esma! Nada acrescento de bom ao mundo. Nem nada de bom, nem nada de mal... Nem nada. Até ai, tudo bem. Não me é exclusividade alguma - tantos por ai vivem os mesmos sendo esmos. A diferença entre mim e eles, é que eu me percebo esma. Sei que isso eu sou... Apenas isso eu sei. Porque o resto, ah! Por que haveria eu de saber? 
No fundo do peito me bate vez por outra uma vontade absurda de deixar de ser esma. Um desejo incontrolável de diferença perante o mundo. Acontece que o mundo não se importa com diferença - e muito menos comigo. Então por que haveria eu de me preocupar com ele? Não sei. Aliás, não sei de muita coisa. Sei que sou esma. O que fazer com tanta esmice que não sei. Se ao menos eu soubesse... Ah! Se eu soubesse que graça teria? Nenhuma, nenhumazinha. Nada haveria para ser desvendado, nada para ser desesmado. Nada. A vida seria vácuo (e já é ruim o fato desta ser sopro). Da vida sempre esperei ventania.
Se um dia descobrir como deixar de ser esma, juro que mostrarei ao mundo o modo de. Mas... O mundo lá vai querer saber? Claro que não! É tão mais fácil ser esmo. Sorte dos ignorantes, que não sofrem por não saberem. O preço de saber é tão alto... Paga-se muito caro por saber. Por isso tantas vezes desejo perder-me, para depois encontrar-me de novo; e é então que lembro que vivo perdida, e que nunca me encontrei. Se por acaso tivesse, isso não seria um texto existente no mundo, nem em mim, seria um não constante vivendo em algum universo paralelo que não encontraria jamais o nosso... Porque esse lance de que retas paralelas se encontram no infinito é baboseira. Pera lá, nem eu mesma sei se existo, quando menos sei sobre a existência desse tal infinito, menos ainda o que este significa. Mas, por alguma razão isso tudo está refletindo em mim, e estou refletindo-o a... A alguma coisa (ou alguém) do jeito torto que sei. Ou não sei também.
Se souberem como isso termina no final, por favor, adiantem-me, porque sinto que tudo isso não me levará a nada (e não quero sair daqui a mesma esma que entrei). Preciso urgentemente descobrir um modo de como fazer a diferença rapidamente. E de como escrever de maneira mais clara que sou apenas esma. Mas tudo bem, por enquanto este é o material que tenho... E considerando que minha matéria prima nem de mim provém, e sim de um universo paralelo qualquer, não me culpo tanto por esse discurso desvairadamente incompreensível e descartável. Irrelevante, eu diria. Mas um discurso que, espero, pelo menos sensibilize em alguma coisa... Já que é tão possível entende-lo quanto impor à existência o que nele é transmitido...

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