domingo, 29 de novembro de 2015

Amor(te)





Então aquelas gotas sobre o vidro:

Chuva de nostalgia...

E as lembranças correndo com o tempo –

O vento soprando todo dia.



Então a natureza lhe sorria:

O som da cigarra, canção no silêncio...

E a memória toda escorrendo...

Lavando tudo que lhe doía.



Então os raios iluminavam...

Os olhos fechados por fim já não viam,

E não viam nada além da escuridão,

Pois navegava discreto meio ao próprio coração.



Então finalmente, sem final e sem mente,

Apenas com o coração, reaprendeu a amar,

E regou todas as sementes,

Que mesmo erroneamente, insistia em guardar.



Então o sol se pôs no horizonte,

E as estrelas, vejam só, reapareceram...

E todas aquelas implodidas, supernovas se converteram,

Super novas sobre o mais profundo dos buracos negros...



Então naquela beleza, de tudo o que sucedeu

À morte em seu próprio eu,

Nela ela mergulhou, e enfim entendeu:

O que vem da escuridão, não é de todo breu.



Então agradeceu a seu coração, e disse adeus:

Adeus à saudade, ao sofrimento e à dor...

E dentro daquela energia, que a toda ela envolvia,

Lá dentro, ela sabia: acordara para o amor.

domingo, 22 de novembro de 2015

Uma história verídica



Amou.

Morreu e só então despertou,

Encheu de alegria, cativou.



Mentiu.

Matou e só se feriu.

Sangrou, ardeu e ruiu.

Sobre seguir em frente (ou para qual direção quiser)




Pela parte que se aparta e se parte
Em mil pedaços, mais que destruição,
Pela parte que me resta, continuo, mesmo vão.

Nesse vão que restou em meu peito
Extinguiu-se o respeito a respeito do amor.
Ele já não mais tolero, e sendo sincero,
Que arrume um jeito de se ir, junto à dor.

Dor doída, cerra a vida, corroí o sentir...
E eu hei de me ir, vou sumir, sucumbir
Minhas cachoeiras no olhar – e a secura por partir.

Partiu-se em mim o pesar, e a apesar
De sentir o riso gélido da figura empírica,
Meu seio cálido abriga o branco da oprimida:
Da tristeza que vale mais que o céu de toda uma vida.

Esse suor que escorre de mim, não é suor,
É chorar, que me atinge o mais delirante dos sonhos sem fim.
Às vezes eu tenho mesmo é pena de mim.

Por mais que diga o contrário, nada que escrevo é mesmo meu,
Às vezes o riso etéreo encobre-me do mundo o breu,
E ligo o modo automático, me acho em frenesi,
Nesse escrever sem pausas, as causas de estar aqui.

Inspiração, talvez. Talvez sim, talvez não.
Mas o olhar brilhante segue amante da solidão,
E a seguir ao longe, mais adiante a desolação.

Consolo, existe, pois bem que talvez.
Talvez, já que muito insiste, trouxe-lhe o partir
Trouxe-lhe também, a promessa de que em mim
Mora minha vida, como em ti a tua.
Então não tenha medo de fechar os olhos e dormir,
Porque mesmo o céu sem lua, a ele não temas subir.

sábado, 21 de novembro de 2015

Derrota





Não sei por onde começar a começar
Porque já comecei, e acabei...
E olhando para dentro notei:
Estou mesmo acabada.

Acabei virando um nada
Sem tormentas nem geadas...
Sem deleites nem delírios,
Sem verdades nem mentiras.

Virei o que nunca sentira:
O silêncio da madrugada.
Porque todo breu preenchia
O vazio – e meu peito gritava.

Então, por fim, eu enfim escrevia,
E essa agonia em mim expurgava.
Mas agora é madrugada tardia,
E me vejo por fim derrotada.

Achei que era só momentânea,
Essa morte do extremismo de sentir...
Mas morri mesmo, instantânea,
E não vejo mais porque persistir...

Não sei mais escrever – não sei nada,
Não tenho nada, não sou nada, por fim.
Parece que o exterior conseguiu –
Tornei-me tudo o que jurei nunca ser.

Tornei-me inércia, flor murcha, lagoa...
Mar morto sem ondas, som que não ecoa:
Som que é só som, chuva que é garoa,
Tornei-me só, e simplesmente, pessoa.

Não que seja de todo ruim,
Mas eu era poeta – a poesia era em mim.
Agora onde mora, essa coisa que teve fim,
Que comigo jamais desavim?

Perdi o fio da meada, perdi o que não era meu:
Perdi as rimas e os remos para correr
Contra a correnteza que me forçava ao céu
Límpido, à estrada, ao certo que senti já ser...

E tudo isso por tão pouco,
Só por abrir os olhos à realidade
E fechá-los de uma só vez aos sonhos...
Overdose da mais pura verdade!

Ah! Não existe poeta sem mentiras...
E as minhas, desmentidas, são martírios!...
E a morte em mim será sempre isso:
O claro, o certo, o sentido...

Com algo que finjo ser amor,
Ao sentimento que jaz aqui esquecido.
Assinado: Coração chegado (antes fosse partido).