Solitário,
vagava por entre as cinzas e a fumaça daquele fogaréu todo que queimava em seu
peito calado, expurgando amor em cada canto. Era tamanha a poluição do ar e do
solo que foi banido da cidade – aqueles que não tinham amor em si e para si não
entendiam suas razões... Razões essas mais irracionais que as razões que o
fizeram deixar sua terra. Porém, pobre apaixonado, nem sequer sofria pela
conspiração contra o queimar dentro de si, tanta era sua alegria em ter seu
peito tão quente quanto o sol!
Por onde
passava deixava seu rastro. Sua presença não passava despercebida em lugar
algum. Ele estava pleno como uma flor, pois floresciam em si sentimentos das
mais variadas cores, sabores e cheiros; ele finalmente entendia que o sentir
não se define – só se sente... E de infinitas maneiras além da compreensão
humana.
No início
todos o olhavam com desprezo, e julgavam-no insano. Mas isso se devia por não
terem nunca se deparado com esse desconhecido que ele experimentava. Mal sabiam
que insanos eram eles, que não sabiam qual dádiva maior se expunha a suas
faces. Aos poucos, a curiosidade instintiva ou a necessidade de sentirem apenas
um terço daquilo que presenciavam fizeram com que tomassem para si parte das
cinzas deixadas para trás... Sentiram-se muitos mais vivos. Todavia, não era o
bastante.
Houve a hora
em que a sede de amor era tanta que as cinzas se tornaram insustentáveis. Nessa
hora, então, as pessoas passaram a buscar tal sentimento uns nos outros, e
deixaram de consumir das cinzas de amores alheios. A partir do momento em que
novos amores foram plantados, todos viram que a felicidade não estava no amor que
vivia consigo – mas sim no amor que vivia no outro. Era ele que os guiava.
Perceberam enfim que não é o amor que move o mundo... É o amar.
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