segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Da diferença entre amor e amar





Solitário, vagava por entre as cinzas e a fumaça daquele fogaréu todo que queimava em seu peito calado, expurgando amor em cada canto. Era tamanha a poluição do ar e do solo que foi banido da cidade – aqueles que não tinham amor em si e para si não entendiam suas razões... Razões essas mais irracionais que as razões que o fizeram deixar sua terra. Porém, pobre apaixonado, nem sequer sofria pela conspiração contra o queimar dentro de si, tanta era sua alegria em ter seu peito tão quente quanto o sol!
Por onde passava deixava seu rastro. Sua presença não passava despercebida em lugar algum. Ele estava pleno como uma flor, pois floresciam em si sentimentos das mais variadas cores, sabores e cheiros; ele finalmente entendia que o sentir não se define – só se sente... E de infinitas maneiras além da compreensão humana.
No início todos o olhavam com desprezo, e julgavam-no insano. Mas isso se devia por não terem nunca se deparado com esse desconhecido que ele experimentava. Mal sabiam que insanos eram eles, que não sabiam qual dádiva maior se expunha a suas faces. Aos poucos, a curiosidade instintiva ou a necessidade de sentirem apenas um terço daquilo que presenciavam fizeram com que tomassem para si parte das cinzas deixadas para trás... Sentiram-se muitos mais vivos. Todavia, não era o bastante.
Houve a hora em que a sede de amor era tanta que as cinzas se tornaram insustentáveis. Nessa hora, então, as pessoas passaram a buscar tal sentimento uns nos outros, e deixaram de consumir das cinzas de amores alheios. A partir do momento em que novos amores foram plantados, todos viram que a felicidade não estava no amor que vivia consigo – mas sim no amor que vivia no outro. Era ele que os guiava. Perceberam enfim que não é o amor que move o mundo... É o amar.

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