Não sei por onde
começar a começar
Porque já comecei, e
acabei...
E olhando para dentro
notei:
Estou mesmo acabada.
Acabei virando um
nada
Sem tormentas nem
geadas...
Sem deleites nem
delírios,
Sem verdades nem
mentiras.
Virei o que nunca
sentira:
O silêncio da
madrugada.
Porque todo breu
preenchia
O vazio – e meu peito
gritava.
Então, por fim, eu
enfim escrevia,
E essa agonia em mim
expurgava.
Mas agora é madrugada
tardia,
E me vejo por fim
derrotada.
Achei que era só
momentânea,
Essa morte do
extremismo de sentir...
Mas morri mesmo,
instantânea,
E não vejo mais
porque persistir...
Não sei mais escrever
– não sei nada,
Não tenho nada, não
sou nada, por fim.
Parece que o exterior
conseguiu –
Tornei-me tudo o que
jurei nunca ser.
Tornei-me inércia,
flor murcha, lagoa...
Mar morto sem ondas,
som que não ecoa:
Som que é só som,
chuva que é garoa,
Tornei-me só, e
simplesmente, pessoa.
Não que seja de todo
ruim,
Mas eu era poeta – a
poesia era em mim.
Agora onde mora, essa
coisa que teve fim,
Que comigo jamais
desavim?
Perdi o fio da meada,
perdi o que não era meu:
Perdi as rimas e os
remos para correr
Contra a correnteza
que me forçava ao céu
Límpido, à estrada,
ao certo que senti já ser...
E tudo isso por tão
pouco,
Só por abrir os olhos
à realidade
E fechá-los de uma só
vez aos sonhos...
Overdose da mais pura
verdade!
Ah! Não existe poeta
sem mentiras...
E as minhas,
desmentidas, são martírios!...
E a morte em mim será
sempre isso:
O claro, o certo, o
sentido...
Com algo que finjo
ser amor,
Ao sentimento que jaz
aqui esquecido.
Assinado: Coração
chegado (antes fosse partido).
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