sábado, 21 de novembro de 2015

Derrota





Não sei por onde começar a começar
Porque já comecei, e acabei...
E olhando para dentro notei:
Estou mesmo acabada.

Acabei virando um nada
Sem tormentas nem geadas...
Sem deleites nem delírios,
Sem verdades nem mentiras.

Virei o que nunca sentira:
O silêncio da madrugada.
Porque todo breu preenchia
O vazio – e meu peito gritava.

Então, por fim, eu enfim escrevia,
E essa agonia em mim expurgava.
Mas agora é madrugada tardia,
E me vejo por fim derrotada.

Achei que era só momentânea,
Essa morte do extremismo de sentir...
Mas morri mesmo, instantânea,
E não vejo mais porque persistir...

Não sei mais escrever – não sei nada,
Não tenho nada, não sou nada, por fim.
Parece que o exterior conseguiu –
Tornei-me tudo o que jurei nunca ser.

Tornei-me inércia, flor murcha, lagoa...
Mar morto sem ondas, som que não ecoa:
Som que é só som, chuva que é garoa,
Tornei-me só, e simplesmente, pessoa.

Não que seja de todo ruim,
Mas eu era poeta – a poesia era em mim.
Agora onde mora, essa coisa que teve fim,
Que comigo jamais desavim?

Perdi o fio da meada, perdi o que não era meu:
Perdi as rimas e os remos para correr
Contra a correnteza que me forçava ao céu
Límpido, à estrada, ao certo que senti já ser...

E tudo isso por tão pouco,
Só por abrir os olhos à realidade
E fechá-los de uma só vez aos sonhos...
Overdose da mais pura verdade!

Ah! Não existe poeta sem mentiras...
E as minhas, desmentidas, são martírios!...
E a morte em mim será sempre isso:
O claro, o certo, o sentido...

Com algo que finjo ser amor,
Ao sentimento que jaz aqui esquecido.
Assinado: Coração chegado (antes fosse partido).

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