sábado, 14 de novembro de 2015

Amornia




Esse gosto amargo que engulo em seco,
Do que eu era antes do fim...
Dessa mágoa eu sucumbo, não aguento,
E repousa eterno esse amor em mim.

Da boca o sabor foi à boca do estômago,
E esse âmago de angústia me incha a alma.
O tempo passa, não passa aqui, circunda a calma
Que envolve o peito – meu peito em estrago.

Um trago a mais e essa fumaça fugaz
Me liberta, me infiltra o mar morto
No coração inerte, que já não pulsa, e voraz
Repulsa o porto do acolhimento absorto em paz.

Meus olhos ardem, cheios de sal, e sal, e esse sol
Não aquece as cinzas do que restou.
Pedaço de carne e ossos ambulante, uma isca no anzol
Do mundo, amante de infortúnios por trás do véu!...

Eu quero ir com a aurora, ir embora de mim!
Minha vida arde enquanto toda vida repousa calada
Em meu estômago, sem digestão... Ou será no coração?
Só sei da alvorada, da luz que me cega nesse apagão...

Esse céu estrelado, ali dorme o manto da minha solidão.
Ou não.

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