terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Exúvia





Essa exúvia me enoja –
Enoja olhar para o que um dia fui...
Enoja ver que junto a muda,
Esmorece-se meu amor.

Sim, é dele que tenho nojo,
Porque, vejam só, destruiu-me...
E vivi o ciclo desse amargor,
Que por fim, chegou a seu limite.

Ah!... Mas tudo mudou,
E mudou para muito melhor!
Porque nada que não seja para sempre
Não vale nem lágrima nem suor.

Exúvia, ex via de mão única,
Porque agora, mudou-se a direção...
Mudou-se, e com a muda, amou-se...
E bastou-se no envoltório deste amor.

E por si mesmo, não o mesmo:
Outra espécie de esplendor!...
Sobre as folhagens robustas, inescrupulosas,
Rasteja-se sutilmente sobre a dor.

E esta, mortificada,
(Amor)tecida de linho rosa
Saiu junto à exúvia,
E junto a tudo que me enoja.

E libertou-me do meu torpor,
Dessa ideia de muda em flor,
E apresentou-me a muda animalesca...
A muda animalesca do amor.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Tempoesia





O tempo é puro descuido,
Que um dia foi dado como sendo tudo,
Mesmo sendo na verdade desculpa,
Para fugir de si mesmo e do mundo.

Tempo não existe, e é infinito.
É tensão, emoção dos aflitos.
Não digo com certeza, porque não sei.
O que sei é que com tempo amei (e desamei).

Pense bem: O tempo é a melhor
Ou a pior coisa já feita pela humanidade?
Na verdade, o tempo não é nosso...
Colocamos nele sim valores.
Tempo é virtude. Virtude não medimos em número.

Meu tempo eu meço em alegria e sofrimento:
Aquela hora lá, em que sorria...
Ou ainda aquela onde a apatia
Esbofeteava e violentava as dores
Que em cada ponto tornam-se dia-a-dia.

Eu sinto do falta do tempo, aquele todo do mundo.
Talvez no fundo nem sinta, mas prefiro crer
Que com o tempo, o tempo vai matar o sentimento...
E esse eterno assassinato, faz com que morra eterno
O sofrimento por debaixo do inferno dos pensamentos...

E no tempo tanto esperei, e desesperei!...
Tempestades, temporais, temperamentos,
Temperamados, tempodoídos, temposofridos,
Temposufocados pelo tempo que não veio...
Destemperados, tempadecidos.
E o tempo acabado: Interrompidos.

domingo, 29 de novembro de 2015

Amor(te)





Então aquelas gotas sobre o vidro:

Chuva de nostalgia...

E as lembranças correndo com o tempo –

O vento soprando todo dia.



Então a natureza lhe sorria:

O som da cigarra, canção no silêncio...

E a memória toda escorrendo...

Lavando tudo que lhe doía.



Então os raios iluminavam...

Os olhos fechados por fim já não viam,

E não viam nada além da escuridão,

Pois navegava discreto meio ao próprio coração.



Então finalmente, sem final e sem mente,

Apenas com o coração, reaprendeu a amar,

E regou todas as sementes,

Que mesmo erroneamente, insistia em guardar.



Então o sol se pôs no horizonte,

E as estrelas, vejam só, reapareceram...

E todas aquelas implodidas, supernovas se converteram,

Super novas sobre o mais profundo dos buracos negros...



Então naquela beleza, de tudo o que sucedeu

À morte em seu próprio eu,

Nela ela mergulhou, e enfim entendeu:

O que vem da escuridão, não é de todo breu.



Então agradeceu a seu coração, e disse adeus:

Adeus à saudade, ao sofrimento e à dor...

E dentro daquela energia, que a toda ela envolvia,

Lá dentro, ela sabia: acordara para o amor.

domingo, 22 de novembro de 2015

Uma história verídica



Amou.

Morreu e só então despertou,

Encheu de alegria, cativou.



Mentiu.

Matou e só se feriu.

Sangrou, ardeu e ruiu.

Sobre seguir em frente (ou para qual direção quiser)




Pela parte que se aparta e se parte
Em mil pedaços, mais que destruição,
Pela parte que me resta, continuo, mesmo vão.

Nesse vão que restou em meu peito
Extinguiu-se o respeito a respeito do amor.
Ele já não mais tolero, e sendo sincero,
Que arrume um jeito de se ir, junto à dor.

Dor doída, cerra a vida, corroí o sentir...
E eu hei de me ir, vou sumir, sucumbir
Minhas cachoeiras no olhar – e a secura por partir.

Partiu-se em mim o pesar, e a apesar
De sentir o riso gélido da figura empírica,
Meu seio cálido abriga o branco da oprimida:
Da tristeza que vale mais que o céu de toda uma vida.

Esse suor que escorre de mim, não é suor,
É chorar, que me atinge o mais delirante dos sonhos sem fim.
Às vezes eu tenho mesmo é pena de mim.

Por mais que diga o contrário, nada que escrevo é mesmo meu,
Às vezes o riso etéreo encobre-me do mundo o breu,
E ligo o modo automático, me acho em frenesi,
Nesse escrever sem pausas, as causas de estar aqui.

Inspiração, talvez. Talvez sim, talvez não.
Mas o olhar brilhante segue amante da solidão,
E a seguir ao longe, mais adiante a desolação.

Consolo, existe, pois bem que talvez.
Talvez, já que muito insiste, trouxe-lhe o partir
Trouxe-lhe também, a promessa de que em mim
Mora minha vida, como em ti a tua.
Então não tenha medo de fechar os olhos e dormir,
Porque mesmo o céu sem lua, a ele não temas subir.