sábado, 30 de janeiro de 2016

Corr(o)ida





Socorro! Só corro, e não consigo parar!
Estou toda fatigada, ofegante, e corroída...
São tantos socos, e sufocos que nos tornam todos ocos...
Já nem sei se há chegada que me valha esta corrida!

Ter tempo é ter tempero que lhe dê graça à vida,
Porque quem corre só tem pó como vestígio a lhe seguir –
O acúmulo do estrago dos pesares e feridas,
Que se abrem e ali ficam... Não há tempo a consumir.

Os meus sonhos estão (ent)errados, não sei mais o que são.
Talvez sejam espaços vagos ou vãos... Não estão aqui!
Tantos (pl)anos corr(o)idos, que se foram, e eu me fu(d)i,
Porque sendo sincera, não sei nem porque parti...

Esse ritmo descontrolado destrói qualquer coração...
De arritmia, valvulopatia... Apatia e solidão.
E se o mundo acaba agora, lhe valeu a maratona?
Porque sem um mar à tona, nada vale a corrosão.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Para tanto





Do parto fez-se o pranto –
Do parto e da partida...
Fez-se o susto, e fez-se o espanto –
O esplendor da nova vida!...

Do parto fez-se a luz –
Desde o parto ao fim da vida...
Fez-se os sentidos e os sentimentos,
Os infinitos e os momentos!...

Tanto pranto foi derramado,
E tanta luz foi refletida!
Tanto amor se foi amado,
E tanto amor foi despedida!...

Mas sem pranto, não respiras...
Tu que nunca hás chorado,
Também nunca hás nascido...
Porque o pranto é a luz da vida!...

Tudo, pois, que hás plantado,
Irrigado foi com lágrimas
Porque de pranto em pranto,
Tu em essência se renovas!...

Então não temas o temporal intrínseco,
Pois não és seco – és inundado...
E tudo que lhe foi mal plantado,
Com pranto cura-se a ferida!...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Desagrado





Tic tac. O tempo está passando,
E você nem saiu do lugar.
A folha a sua frente em branco,
Tal qual sua vida regular.
O tempo voa, e você com os pés no chão
Não aprendeu nem a caminhar...
Está aí estagnado, no máximo girando em círculos,
Voltando ao mesmo ponto do início...
E ficando tão tonto com tais voltas,
Que além de não saber aonde quer chegar,
Não sabe nem ao menos onde está.
Você fita um céu que é incapaz de alcançar.
Todos os dias, poesias de nuvens,
Poesias de estrelas, que você não consegue decifrar.
Você olha, mas não sabe enxergar
A vida que passa, e passa tão singular...
E você, tão plural, tão banal, a vê passar.
E quando você vê, já foi.
E quando você se dá conta, o tempo passou.
E quando você se dá conta, a poesia acabou...
Com você.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Sobre( )viver




Plenamente plana a mente
De um eterno sonhador...
Sonha a dor, e como dói!...
Sonhar não dói, dói acordar,
Dói a cor dar e não receber!...
Dói repartir, para depois se partir,
E então partir para não mais voltar!...

Quem sonha, só sabe voar,
Mas infelizmente, não sabe cair...
Infeliz é a mente de quem só sabe ser gente,
E só conhece a arte de sobreviver...
Desconhece a arte de sobrevoar,
E não sabe (r)existir e ao mesmo tempo viver!...

Alguns inclusive, preferem ferir
(Pré)Ferem sem refletir, nem refratar!...
Não percebem que (fr)atu(r)ar não é só mentir,
É também se enganar, e se (con)fundir
Na dor que causaram... Porque o mundo é um círculo,
É um circo tumultuoso, de mútuos fracassos!...

Portanto, não seja um fracasso, seja de aço,
Mas saiba voar. Não seja um palhaço,
Mas saiba sorrir... E não só rir, saiba (ch)orar.
Saiba cair e depois levantar, e (re)aprender a levitar,
E evitar a monotonia, a monomania, e a lobotomia
De sua existência. Tenha insistência, saiba lutar.

Nem todo mundo nasce pleno, nem plano,
Mas todo mundo precisa planar.
Todos precisam de planos, e encantos, e prantos... E ar!...
Serenos... Ser eu, ser você, e ser nós!...
Não nós apertados, nós entrelaçados, sem sufocar...
Porque convenhamos, tudo que precisamos para voar,
É saber de repente, num ato da/de mente, que basta sonhar!...